Bruno Souza
Acreditar e acompanhar

Outro dia desses ouvi pela janela do prédio, minha vizinha perguntando para a mãe onde estava o passarinho. Eis como a conversa desenrolou.
- Não sei minha filha. Quando olhei a última vez a gaiola estava aberta.
- Mãe, achei que já estava na hora dela voar novamente. Dai deixei aberta.
- Mas nós pegamos faz só duas semanas.
- E não tá bom?
- Nós temos um gato minha filha.
Fiquei triste ao descobrir que foi devorado pelo gato depois. Isso por algum motivo me remeteu ao processo terapêutico e da responsabilidade que temos como psicólogos.
.
Que bom gesto da pessoa em pegar o pássaro e cuidar dele. Ele estava machucado e precisava de ajuda, não podia voar.
.
Ela cuidou do pássaro, mas ai cometeu um erro fatal. Acreditou que o tempo que estavam juntos era o suficiente.
.
Ela abriu a gaiola e torceu para que o pássaro voasse novamente, mas ela não o ACOMPANHOU.
.
Não adianta de nada ajudarmos alguém, alimentarmos, darmos abrigo se não estivermos por perto para dar suporte.
.
Na terapia existem recaídas. Estamos aprendendo a sair de uma maneira de “andar” disfuncional para uma forma natural. Nada funciona da noite pro dia.
.
A mudança ocorre aos poucos e precisa de acompanhamento.
.
Muito provavelmente o pássaro tentou voar, caiu e não havia ninguém para apoiá-lo.